Antes de discernir sobre este tema, não quero que pensem que estou
julgando ninguém individualmente. Discorro sobre uma fauna específica que frequenta
o bioma das salas de aula universitárias. Porém, mesmo tentando acreditar que
estou lidando com indivíduos teoricamente adultos e responsáveis pelos seus
atos, suas ações são diferenciadas da média do grupo. Já tive diversos
Alunos-60 que passaram pelas minhas disciplinas como tempestades, mas que, como
toda tormenta, um dia se afasta, sobrevindo a bonança. Também não gostaria que
o leitor visse estes escritos por um viés de choque de gerações, pois
sabidamente é burrice uma comparação com qualquer das inúmeras denominações de
gerações criadas para explicar este vazio universitário mental. Gerações
possuem ambientes e momentos próprios, que são, por essência, incomparáveis.
Nestes quase 30 anos de docência (e levando em consideração, também, os
inúmeros anos de janela durante minhas graduações), e ao considerar o
aproveitamento dos discentes em minhas disciplinas, constatei que, por este prisma,
estes alunos podem ser classificados em dois grandes grupos: os Alunos-60 e os demais.
Pode parecer coisa de biólogo taxonomista querer classificar tudo que vê pela
frente (ou de um psicólogo esquizofrênico precoce), mas se trata de uma constatação
real. Pois bem, o que se aproxima do perfil do Aluno-60? Tentarei traçar este comportamento
estereotipado correndo o risco de generalizações, o que é um erro grave, porém
comum do ser humano. Também não estou assumindo uma avaliação psicológica
acadêmica, pois não tenho instrumentos adequados para tal feito. Mas vamos
lá...
O Aluno-60 é aquele indivíduo pouco participativo em atividades, apesar
de contestar tudo o que é dado na disciplina. É um indivíduo fugidio e que só
se manifesta perante situações específicas que o favoreçam. Seu comportamento agressivo
frente às atividades avaliativas é patognomônico, pois, frente à sua
incapacidade, o mesmo já se julga prejudicado em função de alguma tarefa que
ele, por meio de sua imaginação egocêntrica e míope, pensa ter sido montada
para desarticula-lo em sua caminhada acadêmica.
Neste ponto, quando se sente prejudicado (como em uma revisão de nota
avaliativa), o Aluno-60 coloca em ação todo o seu ferramental de boatos,
difamações e mexericos sobre seu professor, a avaliação e a própria disciplina,
posicionando-se como a grande vítima do processo. Seu grau de vitimização é tão
impressionante e vívido, que carrega outros colegas incautos em sua firme decisão
de se mostrar pusilânime frente a estas situações. Sua opinião é mais
importante e de caráter decisório final, não aceitando outras interpretações.
É muito fácil o reconhecimento destes representantes em uma turma. Um
professor experimentado e calejado consegue, logo nas primeiras aulas,
identificar um Aluno-60. E cabe especial atenção a este indivíduo, já que se
trata de um ser em caminho progressivo para o autoenforcamento, já que eles
mesmos colocam as cordas em seus pescoços logo no início da graduação,
esperando apenas alguma situação (ou alguém) que chute o banquinho que,
efemeramente, ainda o sustenta. O Aluno-60 é uma espécie de neoplasia maligna
dentro de uma turma, pois ele está ali apenas para passar na disciplina, em
nada contribuindo para o bem comum. É um embrião psicopático ainda quiescente. A
consequência imediata e fatal da ação destes indivíduos é uma quebra da relação
educador-educando, criando uma atmosfera insalubre e hostil para ambos. E como um
câncer, seu poder metastático é alto e alcança a maior parte dos colegas,
podendo espalhar a discórdia e o ressentimento no processo de
ensino-aprendizado.
Fico pensando se o Aluno-60 estaria satisfeito com apenas 60% de realização
em suas atividades extrauniversitárias. Para ser um pouco bizarro, fico
pensando se este indivíduo se contenta em comer apenas 60% do que sua fome
pede; será que ele nunca atingirá um orgasmo, já que sua potência sexual será
de apenas 60%? O seu salário futuramente correspondera a 60% do que ele poderia
cobrar? Será???
Cabe ao educador evitar confrontos nestas situações, pois, como dito,
estes indivíduos aprendem (e se alimentam) com desavenças e dor (já que o
prazer é transitório em suas ações). Infelizmente, o poder dissuasivo do
Aluno-60 é alto, podendo contaminar àqueles que o rodeiam de forma muito rápida
e eficiente. O educador deve se abster de discussões diretas, já que
interjeições lógicas não alcançam a mente infantil e insana deste indivíduo. O
que o Aluno-60 mais quer, além de passar na disciplina por qualquer estratégia
(lícita ou ilícita), é discutir, criar confusão e semear a discórdia, achando
campo fértil para isto caso encontre alguém que o abasteça. Seu rastro nesta
caminhada é apavorante, mas de pouca importância para eles.
Uma das estratégias que adoto e aprendi ao longo do tempo foi direcionar
a este representante da vasta fauna psicótica humana uma completa indiferença
com relação aos seus comportamentos doentios. Vale para ele o que vale para o
restante da turma: nem mais, nem menos. O Aluno-60 não encontrará em mim
nenhuma lenha para queimar em sua fogueira de ódio e imaturidade. Assim, que
ele se queime sozinho. Cedo ou tarde, como tenho constatado em casos como estes,
vejo futuros profissionais imbecilizados, arrogantes e pouco capazes de exercer
sua atividade. Sua fragilidade é inversamente proporcional à sua resiliência,
revelando um indivíduo fraco e de difícil socialização.