sábado, 30 de setembro de 2017

O Aluno-60

Antes de discernir sobre este tema, não quero que pensem que estou julgando ninguém individualmente. Discorro sobre uma fauna específica que frequenta o bioma das salas de aula universitárias. Porém, mesmo tentando acreditar que estou lidando com indivíduos teoricamente adultos e responsáveis pelos seus atos, suas ações são diferenciadas da média do grupo. Já tive diversos Alunos-60 que passaram pelas minhas disciplinas como tempestades, mas que, como toda tormenta, um dia se afasta, sobrevindo a bonança. Também não gostaria que o leitor visse estes escritos por um viés de choque de gerações, pois sabidamente é burrice uma comparação com qualquer das inúmeras denominações de gerações criadas para explicar este vazio universitário mental. Gerações possuem ambientes e momentos próprios, que são, por essência, incomparáveis.


Nestes quase 30 anos de docência (e levando em consideração, também, os inúmeros anos de janela durante minhas graduações), e ao considerar o aproveitamento dos discentes em minhas disciplinas, constatei que, por este prisma, estes alunos podem ser classificados em dois grandes grupos: os Alunos-60 e os demais. Pode parecer coisa de biólogo taxonomista querer classificar tudo que vê pela frente (ou de um psicólogo esquizofrênico precoce), mas se trata de uma constatação real. Pois bem, o que se aproxima do perfil do Aluno-60? Tentarei traçar este comportamento estereotipado correndo o risco de generalizações, o que é um erro grave, porém comum do ser humano. Também não estou assumindo uma avaliação psicológica acadêmica, pois não tenho instrumentos adequados para tal feito. Mas vamos lá...


O Aluno-60 é aquele indivíduo pouco participativo em atividades, apesar de contestar tudo o que é dado na disciplina. É um indivíduo fugidio e que só se manifesta perante situações específicas que o favoreçam. Seu comportamento agressivo frente às atividades avaliativas é patognomônico, pois, frente à sua incapacidade, o mesmo já se julga prejudicado em função de alguma tarefa que ele, por meio de sua imaginação egocêntrica e míope, pensa ter sido montada para desarticula-lo em sua caminhada acadêmica.

Neste ponto, quando se sente prejudicado (como em uma revisão de nota avaliativa), o Aluno-60 coloca em ação todo o seu ferramental de boatos, difamações e mexericos sobre seu professor, a avaliação e a própria disciplina, posicionando-se como a grande vítima do processo. Seu grau de vitimização é tão impressionante e vívido, que carrega outros colegas incautos em sua firme decisão de se mostrar pusilânime frente a estas situações. Sua opinião é mais importante e de caráter decisório final, não aceitando outras interpretações.


É muito fácil o reconhecimento destes representantes em uma turma. Um professor experimentado e calejado consegue, logo nas primeiras aulas, identificar um Aluno-60. E cabe especial atenção a este indivíduo, já que se trata de um ser em caminho progressivo para o autoenforcamento, já que eles mesmos colocam as cordas em seus pescoços logo no início da graduação, esperando apenas alguma situação (ou alguém) que chute o banquinho que, efemeramente, ainda o sustenta. O Aluno-60 é uma espécie de neoplasia maligna dentro de uma turma, pois ele está ali apenas para passar na disciplina, em nada contribuindo para o bem comum. É um embrião psicopático ainda quiescente. A consequência imediata e fatal da ação destes indivíduos é uma quebra da relação educador-educando, criando uma atmosfera insalubre e hostil para ambos. E como um câncer, seu poder metastático é alto e alcança a maior parte dos colegas, podendo espalhar a discórdia e o ressentimento no processo de ensino-aprendizado.


Fico pensando se o Aluno-60 estaria satisfeito com apenas 60% de realização em suas atividades extrauniversitárias. Para ser um pouco bizarro, fico pensando se este indivíduo se contenta em comer apenas 60% do que sua fome pede; será que ele nunca atingirá um orgasmo, já que sua potência sexual será de apenas 60%? O seu salário futuramente correspondera a 60% do que ele poderia cobrar? Será???

Cabe ao educador evitar confrontos nestas situações, pois, como dito, estes indivíduos aprendem (e se alimentam) com desavenças e dor (já que o prazer é transitório em suas ações). Infelizmente, o poder dissuasivo do Aluno-60 é alto, podendo contaminar àqueles que o rodeiam de forma muito rápida e eficiente. O educador deve se abster de discussões diretas, já que interjeições lógicas não alcançam a mente infantil e insana deste indivíduo. O que o Aluno-60 mais quer, além de passar na disciplina por qualquer estratégia (lícita ou ilícita), é discutir, criar confusão e semear a discórdia, achando campo fértil para isto caso encontre alguém que o abasteça. Seu rastro nesta caminhada é apavorante, mas de pouca importância para eles.

Uma das estratégias que adoto e aprendi ao longo do tempo foi direcionar a este representante da vasta fauna psicótica humana uma completa indiferença com relação aos seus comportamentos doentios. Vale para ele o que vale para o restante da turma: nem mais, nem menos. O Aluno-60 não encontrará em mim nenhuma lenha para queimar em sua fogueira de ódio e imaturidade. Assim, que ele se queime sozinho. Cedo ou tarde, como tenho constatado em casos como estes, vejo futuros profissionais imbecilizados, arrogantes e pouco capazes de exercer sua atividade. Sua fragilidade é inversamente proporcional à sua resiliência, revelando um indivíduo fraco e de difícil socialização.

Mas este é o preço que se paga por não se tentar entender e nem ouvir os outros. Se é que vale alguma sugestão (nunca dou conselhos, até mesmo pela inutilidade dos mesmos na maioria das situações), procure ajuda psicológica. Talvez seu distúrbio comportamental tenha controle e você possa viver a vida sem criticar os outros nem se sentir o último “Bis” da caixinha. Boa sorte para você, Aluno-60.

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