Hoje se comemora no Brasil o Dia dos Professores. Será que há o que
comemorar? Já estou a mais de 30 anos nesta atividade e ontem, ao lembrar-me da
data, dei “uma varrida” na memória buscando os momentos mais marcantes que passei.
Foram vários e que gostaria de compartilhar alguns com vocês.
Quando estava começando a carreira docente (lá por volta de 1990-1991),
aproveitei uma oportunidade que surgiu para dar aulas de Biologia, Física e
Química em um colégio municipal de Belo Horizonte. O salário era horrível (não mudou nada em relação aos dias de hoje,
parte I), o local de pouca segurança (não
mudou nada em relação aos dias de hoje, parte II) e o alunado tinha pouco
ou quase nenhum interesse nas aulas (não mudou
nada em relação aos dias de hoje, parte III). Fui.
As aulas eram no período noturno, com turmas cheias e faixa etária mais
elevada que nos períodos matutinos. Senti a dificuldade natural de comunicação,
ainda mais que eu estava começando no ofício e aquela realmente não era a minha
praia. Já tinha um pouco mais de vivência com alunos universitários e alguns de
curso de inglês, mas aquela experiência era única.
Em um determinado momento de uma das aulas de Biologia, quando passava a
matéria no quadro (pois é, este era o método adotado naquela época (não mudou nada em relação aos dias de hoje,
parte IV), notei que um dos alunos mais “erados” roncava na última
carteira. Sei que não é fácil engolir Mendel e suas teorias mirabolantes de
ervilhas às dez da noite, mas achei aquilo uma falta de respeito. Pois bem, do “alto
do pedestal de mestre”, resolvi dar uma lição de moral. Mas, na verdade, fui eu
quem aprendi a lição...
Pedi que acordassem o aluno e perguntei se eu o estava incomodando,
pois, se assim o fosse, poderia acabar a aula naquele momento, deixando seus colegas
sem o conteúdo em função do sono dele. Foi aí que o aluno levantou a cabeça,
com os olhos ainda teimando em se manter entreabertos, me encarou e disse uma
das coisas que mais me impactou na minha carreira docente e na vida pessoal.
Foi mais ou menos assim: “Doutor, o
senhor está aí falando de coisas que eu nem sei do que se trata ou para quê
servirão. Da minha parte, sou o quinto filho de uma família muito pobre. Minha
mãe é prostituta e viciada em drogas e meu pai eu nem sei quem é. Meus irmãos,
todos mais jovens, também não sabem quem são seus pais. Eu trabalho o dia
inteiro como servente de pedreiro em uma obra na periferia e, como não tenho
grana para o ônibus, vou e volto de “magrela” todo dia. Quando chego em casa,
encontro meus irmãos com fome, minha mãe drogada e suja e o barraco uma bagunça.
Tenho que arrumar tudo e todos em menos de duas horas, pois preciso estar aqui
até na hora da merenda, senão durmo com fome. Agora, o senhor, não deve
entender nada disso. Seu carro está lá fora, sua comida deve estar esperando no
forno e amanhã o senhor não precisa se preocupar com o pão de cada dia. É fácil
falar assim quando se tem tudo à mão. Hoje estou mais cansado que nos outros
dias. Fui dispensado do meu emprego. Não tem problema: amanhã buscarei outra
coisa para fazer. Por isso estou dormindo, já que este tal de Mendel não vai me
dar um prato de comida amanhã.”
Fiquei petrificado com esta fala. Senti o mundo balançar e experimentei
uma situação que sequer tinha passado (apenas imaginado na minha cômoda
situação de classe média). Terminei a aula e me apressei para ir ao
estacionamento. Tinha pressa de entrar no carro e sair dali. Aos prantos (já
não conseguia segurar) passei pelo portão principal da escola. Aquilo foi tão
cruel que não consegui dormir naquela noite. Como disse, foi uma das
experiências que nortearam e consolidaram minha carreira docente. Aquilo tudo
serviu para me mostrar o quanto somos pequenos na nossa insignificância de ser humano,
mas que podemos acolher o outro e oferecer o que é mais valioso, sem cobrar um
tostão: a compreensão. Aprendi (um pouco, mas o suficiente) que cada um realmente
carrega seu fardo, seus problemas e suas angústias. Eu não tinha nenhum direito
de tratá-lo daquela maneira, sequer julgá-lo.
Bom, há tempos aplico o que aquele aluno me ensinou. Não culpo o discente
se ele está ou não "ligado” nas aulas, pois aquele pode ser exatamente um “dia
de sono”. Cada um sabe até onde pode ir e o peso de sua consciência. A
transferência de responsabilidades deve ser ampla nestes casos. Faço a minha
parte e deixo que outros façam a deles.
Na próxima postagem coloco outro caso que muito me ensinou netas
andanças.
PROGRAMAÇÃO DA SEMANA
SEMIOLOGIA (GMV116)
15/10/2018 = TURMAS A-B-C
Aula Teórica 43-44 (Sistema Tegumentar), PV06, sala 28, 15h00 às 16h40.
Discussão do desafio da semana anterior: Hepatopatias e Prova de Ondulação Abdominal Positiva.
Desafio da próxima semana: Diabete Melito e Catarata.
Discussão do desafio da semana anterior: Hepatopatias e Prova de Ondulação Abdominal Positiva.
16/10/2018 = TURMA B
Aula Prática 45-47 (Sistema Tegumentar I), Sala DMV-04, 09h00 às 11h30.
17/10/2018 = TURMA C
Aula Prática 45-47 (Sistema Tegumentar I), Sala DMV-04, 09h00 às 11h30.
Aula Prática 45-47 (Sistema Tegumentar I), Sala DMV-04, 09h00 às 11h30.
Aula Prática 45-47 (Sistema Tegumentar I), Sala DMV-04, 09h00 às 11h30.
18/10/2018 = TURMA A
Aula Teórica 05 (Exposições Cinófilas), DMV01, 10h00 às 10h50.
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